A COVID-19 chegou de repente e afetou a vida de todos. Alguns, de forma mais branda, porém outros tiveram suas vidas completamente alteradas. Muitos aproveitaram para aprender uma nova atividade, se reaproximar da família e retornar para projetos que se encontravam parados. Entretanto, na vida de muitos outros, a pandemia trouxe desemprego, dificuldades, e perdas de entes queridos. Os números mostram um total de 33,3 milhões de casos no Brasil (julho de 2022), com mais de 670 mil mortes. E nesse cenário assustador, algumas pessoas necessitam de uma atenção especial: os sobreviventes.

Ainda não sabemos a dimensão de tudo que envolve a COVID-19. Por enquanto, temos que lidar com a ciência sendo construída enquanto aprendemos juntos a superar esse período difícil. Pensando nisso, pesquisadores portugueses publicaram o primeiro estudo que avalia a qualidade de vida relacionada com a saúde e a incapacidade no primeiro mês após a alta para o domicílio de sobrevivente de COVID-19  grave internados por mais de 24 horas no Serviço de medicina intensiva. O estudo foi realizado no Centro Hospitalar Universitário São João, com 99 pacientes, onde foi feito contato por meio de consulta telefônica um mês após a alta. (Fontes, Liliana Cristina da Silva Ferreira et al. Impacto da COVID-19 grave na qualidade de vida relacionada com a saúde e a incapacidade: uma perspectiva de follow-up a curto-prazo. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online]. 2022, v. 34, n. 1, pp. 141-146).

Entre os pacientes entrevistados: 63,6% eram homens; 65,7% tinham mais de 60 anos e permaneceram no hospital de 22 a 25 dias. Destes, 32,3% foram submetidos à ventilação mecânica invasiva e 63,6% foram submetidos a ventilação não invasiva. Em relação à qualidade de vida, 52,5% apontaram dificuldades leves a moderados em andar, 53,6% apresentou ter dores e mal-estar leve a moderado. 32,3% diz estar ligeiramente ansioso e deprimido e 30,3% revelou ser incapaz de desempenhar suas atividades habituais. Além disso, 57,6% disseram ter tido dificuldade em participar de atividades na comunidade, como festas e atividades religiosas e 27,3% nem tentaram retornar a essas rotinas. Quando questionados sobre o quanto foram afetados emocionalmente pelos seus problemas de saúde, 22,2% referiram dificuldade moderada, 33,2% dificuldade grave e 19,3% dificuldade extrema. A maioria não apresentou dificuldade em se concentrar, no autocuidado ou em lidar com pessoas.

Os sobreviventes de covid-19 possuem grande potencial de desenvolver sequelas pós- doença, principalmente aqueles que passaram por sedação profunda e por grandes períodos de internação. Em vista disso, o estudo nos mostra que a maioria destes pacientes tiveram dificuldades que afetaram a qualidade de vida. E ainda conclui que a identificação precoce de sequelas pode ajudar a definir prioridades para a reabilitação e reinserção após a COVID-19 grave. Porém pode haver um obstáculo na identificação desses casos.

Foi observado que perguntas direcionadas ao paciente a respeito de como ele se “sente” tendem a respostas positivas que levam a classificação elevada de qualidade de vida. Isso ocorre devido às expectativas do paciente, que em um curto período de tempo, se encontrava muito doente, temendo o pior e apesar disso, sobrevive. Todavia, perguntas sobre a rotina habitual e a incapacidade de fazer certas atividades podem mostrar a real dimensão do problema, já que o paciente tende a subestimar esse tipo de avaliação. A partir da junção dos dois métodos de avaliação, foi possível constatar que a autopercepção da qualidade de vida dessas pessoas é maior do que a avaliação objetiva mostra. 

Por fim, é preciso destacar que 1 mês após a alta é provavelmente um período muito curto para reconhecer o impacto a longo prazo da COVID-19 grave na qualidade de vida e incapacidade dos pacientes. Porém, este também é o período ideal para identificar as principais sequelas e definir uma estratégia adequada que diminua os impactos e acelere a reabilitação e reinserção familiar e social, sendo assim, é fundamental o acompanhamento pela equipe de saúde, mesmo após a alta hospitalar. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fontes, Liliana Cristina da Silva Ferreira et al. Impacto da COVID-19 grave na qualidade de vida relacionada com a saúde e a incapacidade: uma perspectiva de follow-up a curto-prazo. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online]. 2022, v. 34, n. 1, pp. 141-146. Disponível em: <https://doi.org/10.5935/0103-507X.20220008-pt https://doi.org/10.5935/0103-507X.20220008-en>. Epub 24 Jun 2022. ISSN 1982-4335. https://doi.org/10.5935/0103-507X.20220008-pt. Acesso em: 22 de jul. de 2022.

Organização Pan-Americana de Saúde. Considerações sobre reabilitação durante ou surto de COVID-19. 2020. Disponível em: <https://iris.paho.org/handle/10665.2/52103>. Acesso em: 20 de jun. de 2022. 

De  Souza,  Júlio  César;  Ferreira,  Joel  Saraiva;  De  Souza,  Geize  Rocha  Macedo.  Reabilitação  funcional  para  pacientes  acometidos por covid-19. Revista Cuidarte. 2021;12(3):e2276. Disponível em: <: https://doi.org/10.15649/cuidarte.2276> Acesso em: 20 de jul. de 2022.

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